Primeiro marco do audiovisual potiguar, o filme “Boi de Prata” mostrou ao Brasil de 1980 um sertão profundo, desigual, violento, e ao mesmo tempo poético – todo filmado em Caicó. Fotos inéditas dos bastidores da obra, feitas pelo renomado diretor de fotografia Walter Carvalho, foram achadas e deram origem à exposição “Boi de Prata”, que será aberta neste dia 05 (sábado), às 17h, na Pinacoteca do Estado. Na ocasião serão exibidos o longa-metragem, e também o documentário “Cores de Amaro”, sobre Amaro Sales, que foi maquiador do filme.
As imagens mostram registros históricos do filme rodado entre 1978 e 1979, com roteiro, trilha, atores e figurantes locais, incluindo a direção, a cargo do caicoense Carlos Augusto Ribeiro Júnior. O filme se tornou um marco por regionalizar uma produção cinematográfica que até então era toda centrada no eixo Rio/São Paulo, e colocar o Seridó potiguar como cenário.
Segundo a produtora Thalita Baz, as fotos são uma preciosidade histórica do cinema do cinema brasileiro e, principalmente, local. “Os negativos estavam guardados por mais de 40 anos. Com essa iniciativa, conseguimos resgatar o material para o Rio Grande do Norte e poderemos difundir um dos marcos do cinema brasileiro e potiguar”, disse. Uma mostra digna de celebração, além de trazer para a cidade as fotos de Walter Carvalho, um dos mais importantes cineastas brasileiros.
Walter Carvalho se tornou responsável mais tarde pela fotografia de obras igualmente clássicas como “Central do Brasil”, “Carandiru”, “Madame Satã” e na televisão, além de novelas como “Pantanal”, “Rei do Gado” e “Onde nascem os fortes”. “Boi de Prata” ficou mais de 30 anos guardado, quando foi resgatado e digitalizado, em 2019. O filme costuma ser comparado, e citado como influência, de “Bacurau”, um dos maiores sucessos do cinema nacional dos últimos anos.
“Boi de Prata” é uma aventura nordestina sob o sol do sertão caicoense. A trama se passa em uma cidade do interior potiguar, na qual o rico fazendeiro Elói Dantas (Álvaro Guimarães) decide aumentar seu patrimônio, explorando minérios. Para isso, tenta se apropriar do pequeno sítio de Antônio Vaqueiro (José Marinho). Desesperado, Antônio corre em auxílio da curandeira cigana Maria dos Remédios (Luiza Maranhão) e do fazedor de poemas e sonhador Tião Poeta (Lenício Queiroga) para enfrentar a ganância de Elói.
Entre novembro de 1978 e janeiro de 1979, Ribeiro Jr. filmou a maior parte das cenas do filme na zona rural de Caicó. Durante os anos de 1979 e 1980, o filme foi montado. “Boi de Prata” foi um dos primeiros filmes produzidos pelo modelo de regionalização da produção, implantado pela Embrafilme em 1976.
Mas ao contrário do que era previsto pelo contrato com a Embrafilme, o filme nunca foi distribuído para os cinemas do país. Depois de algumas pré-estreias e participações em festivais, caiu nas sombras e no silêncio das prateleiras da estatal de cinema – até ser resgatado em 2019. O documentário “Cores de Amaro”, dirigido por Márcia Lohss e Priscilla Vilela, vai dividir a cena com “Boi de Prata” na abertura da exposição.
O filme conta a história do potiguar Amaro Bezerra, maquiador e artista visual que integrou a equipe do histórico longa potiguar. Foi durante a gravação do documentário que as fotos inéditas foram descobertas e a ideia da exposição surgiu. A iniciativa da exposição é da Com Arte Cultural, em parceria com a Cardeiro e conta com o Patrocínio da Potigás e do Governo do Estado e Fundação José Augusto através do Programa Cultural Câmara Cascudo e apoio da Pinacoteca do estado.
Fonte: Tribuna do Norte.