Com o intuito de acompanhar a realidade da Comunidade Quilombola Pitombeira, localizada no estado da Paraíba, e realizar um importante debate sobre as consequências da instalação de empreendimentos de energia renovável em territórios de comunidades tradicionais, foi produzido o artigo As contradições da energia renovável no Semiárido: o caso da injustiça ambiental produzida por empreendimento de energia solar na Comunidade Quilombola Pitombeira (Paraíba – Brasil). Desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Territórios do Semiárido (SEMIAR) do Centro de Ensino Superior do Seridó (Ceres/UFRN), o estudo foi publicado na Revista Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (NERA), da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
Desde 2021, os moradores da comunidade têm evidenciado os efeitos problemáticos relacionados aos impactos da energia renovável e as injustiças ambientais que surgem nesse contexto. Através de uma análise profunda, os pesquisadores do Grupo SEMIAR – Leandro Vieira Cavalcante, docente da UFRN, Jackson Araujo de Sousa e Thiago Mateus Ferreira de Assis, estudantes de pós-graduação – buscaram destacar os impactos sociais e ambientais causados pela operação do Complexo Solar Luzia, localizado a menos de três quilômetros do território quilombola.
Os pesquisadores asseveram que a instalação de complexos de energia solar em regiões do Semiárido tem gerado impactos cumulativos que comprometem o equilíbrio ecológico e desestabilizam o modo de vida das comunidades tradicionais. O estudo aponta que, além da degradação ambiental, como a alteração dos ecossistemas e o desmatamento, a presença do empreendimento resultou na perda de acesso a recursos naturais essenciais para a sobrevivência desses povos, como água e terra para cultivo.
A pesquisa reforça que, frequentemente, as comunidades não são adequadamente consultadas sobre a instalação dos empreendimentos que afetam diretamente suas terras e modos de vida. Através de rodas de conversas e entrevistas com os moradores e líderes da comunidade, foi apontada uma abordagem forçada e negligente com relação aos moradores, indicando uma violação dos direitos territoriais dessas populações. Os impactos ambientais, como a alteração da biodiversidade e a perda de áreas de cultivo, também foram apontados como fatores que dificultam a manutenção de suas práticas culturais e econômicas.
Dessa forma, o artigo expõe como a expansão de empreendimentos de energia renovável, tem, gradualmente, agravado o contexto de injustiça ambiental e colaborado com a desvalorização da cultura dessas comunidades, principalmente por meio do negligenciamento dos grandes empreendimentos, além da apropriação privada da natureza, da terra e do território do Semiárido.